21 de junho, 2019

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Acolher os refugiados é um imperativo categórico dos herdeiros de uma cultura judaico-cristã, defende Paulo Rangel

Eurodeputado fez a primeira conferência do Simpósio Teológico-pastoral que decorre em Fátima, refletindo sobre os movimentos migratórios na atualidade

 

Acolher os migrantes, sejam refugiados sejam migrantes económicos, é uma obrigação dos cristãos que vai além do mero cumprimento de um mandamento cristão de amor ao próximo, afirmou esta manhã em Fátima o eurodeputado Paulo Rangel na primeira conferência do Simpósio Teológico-pastoral que de hoje até domingo discutirá a temática “Fátima, hoje: que caminhos?”.

“Cuidar dos refugiados é uma consequência da cultura judaico-crsitã. Há um mandato a partir dos textos sagrados para cuidar dos que estão fora, em fragilidade, porque estão fora do seu ambiente natural” afirmou o eurodeputado.

“É preciso não esquecer que a família de Nazaré foi refugiada, saindo de onde era perseguida”, lembrou Paulo Rangel .

“Acolher migrantes mais do que um mandamento é uma obrigação para os cristãos, para a igreja”, por isso “não é estranho que o Papa esteja tão ferozmente ao lado dos migrantes. Ele segue o Evangelho”, esclareceu.

 

“A igreja tem de estar do lado dos migrantes porque tem um fundamento teológico para isso. Não se trata de uma consequência pura e simples do mandamento de amor ao próximo; há fundamentos específicos, literais e textuais para fazer do acolhimento dos refugiados uma obrigação para quem é cristão, para quem tem fé”, concluiu.

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O eurodeputado social democrata, “cristão de cultura católica”, veio a Fátima falar do fenómeno migratório na atualidade e lembrou que as migrações são “uma inevitabilidade” e a Europa (e o mundo ocidental no seu todo) deve ter uma resposta concreta delineada para acolher os migrantes. Sobretudo os que vêm do continente Africano que será, nos próximos anos, aquele que mais crescerá em termos demográficos, alertou.

“As migrações hoje têm uma expressão tal que condicionam toda a atividade social, política e económica e, sobretudo, a própria convivência . É isso que temos de resolver” adiantou fazendo a distinção entre ser peregrino e viver numa condição de “peregrinagem”, motivada por adversidades de vária ordem.

 

“Tem que haver uma estratégia para acolher estas pessoas ; a Europa tem de ser capaz de acolher estas pessoas” pois “há uma condição peregrinante para além da condição de peregrino” que “é um estado transitório”.

“Temos de saber o que fazer com aqueles que vêm para ficar” acrescentou lembrando que estas soluções têm de ter por base “algum realismo” pois “nem todos podem ficar” e “há linhas vermelhas que têm de ser claras e objetivas”.

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Lídia Jorge, a segunda oradora do Simpósio, abordou as questões inerentes à “viagem” no mundo contemporâneo, que determinam a existência de um novo paradigma de vivência da espiritualidade, que em última análise dispensa Deus.

“O Homo Viator , hoje em dia, continua a procurar  a deslocação e a manter o sentido da peregrinação, mas tende a fazê-lo no meio do ruído, num voo rápido entre aeroportos superpovoados, entre horários fixos que se alteram a cada momento,  entre solicitações paralelas de toda a natureza, compromissos sobrepostos, exigências e ameaças de falhas tecnológicas de toda a espécie” afirmou a escritora, nascida no Algarve, que cresceu em África.

“Cada ser humano, vá para onde for, transforma-se numa vara de pára-raios colocada no alto de uma torre, no meio de uma tempestade.  É o nosso modo de vida que afasta da contemplação, esse ensaio de imobilidade que faz mover o que de mais fundo se encontra dentro do ser humano”, prosseguiu lembrando que falta “tempo interior alargado” ao homem de hoje para a religião, para o transcendente e, por isso, para a atenção com o outro.

 

“Não são eles apenas que estão na base do declínio  do homem espiritual, contemplativo e religioso, são as próprias conceções do ser humano e do valor da humanidade no seu conjunto que vêm ter connosco a cada dia que passa”, esclareceu ainda, exemplificando com a preocupação sobre a atitude dos mais novos, a quem falta, no entender da escritora, alguma noção do transcendente.

“Será que os jovens de hoje ligarão a música que ouvem através do telemóvel, fraccionada, com esta letra de crença na Humanidade e no Criador? Não será que a notícia das ondas gravitacionais, recentemente confirmadas, não lhes diz antes que o mundo é uma grande equação matemática, que teve seu início, e um dia no futuro dos tempos, fora dos cálculos humanos, terá o seu fim? Que a noção de Criador  gerador  do Cosmos não passa de um mito  criado por mentes pré-racionais?” interpelou.

“Pelo meu lado, atrevo-me a dizer que não é só o sentido religioso da narrativa bíblica que fica em causa, é o próprio sentido poético da Humanidade que vai ficando irradiado da própria construção mental humana”, adiantou ainda.

“A pergunta que nos assiste é esta – A imaginação, tal como a natureza, tem horror ao vazio. Se se perderem estes mitos, o que se colocará no seu lugar? Que narrativas? Que intérpretes? Que ações, que tipo de batalhas? Que tropo para representar o Cosmos?”.

“A minha ideia, humilde ideia, é que enquanto se esvazia esse espaço do seu conteúdo, e nenhum elemento outro, mais válido, ocupa o seu lugar, temos o dever de manter o que herdámos e procurar transmitir os elementos transfiguradores que transportamos para os deixarmos para a geração seguinte” afirmou a escritora Lídia Jorge.

“O Homo Viator de hoje caminha pela estrada levando na mochila os mitos que lhe servirão para fazer o que quiser com eles, no seu futuro. Na certeza de que ao caminhar pela terra tem um novo Cosmos no horizonte, uma imagem dele que nunca antes existiu”, concluiu.

 

O Simpósio Teológico-pastoral prossegue esta tarde. O programa debruça-se neste primeiro dia sobre “a condição peregrina”, com reflexões de José Rui Teixeira, Helena Vilaça e José Paulo Abreu. Amanhã, sábado, os trabalhos debatem a “peregrinação a Fátima”, com intervenções de António Martins, Marco Daniel Duarte, Adrian Attard, José Manuel Pereira de Almeida, Ana Luísa Castro e o Pe. Carlos Cabecinhas, reitor do Santuário de Fátima.

No último dia do  simpósio estão agendadas intervenções de Benito Mendez Fernandez e Nunzio Capizzi.

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