13 de maio, 2020

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TEMPLOS VAZIOS OU TEMPLOS CHEIOS?

 

Estávamos habituados a ir ao cinema e ao teatro pelos atores, a espetáculos pelos artistas, aos concertos para ouvir os músicos, ao bailado para ver os bailarinos, e por aí adiante. Estávamos habituados a entrar e sair de casa sempre que precisávamos, sem pensar muito nisso. Estávamos habituados a viajar, a ir e a voltar. E nós, crentes, estávamos habituados a ir a Fátima rezar, pedir e agradecer, celebrar sozinhos ou com outros peregrinos e visitantes. Estávamos todos habituados a estar em família e a receber familiares e amigos em casa. Estávamos habituados a visitar, a abraçar, a dar ombro e colo. Estávamos habituados a estender a mão e a segurar as mãos dos outros.

Estávamos, mas deixámos de estar e tivemos que nos desabituar para conseguirmos viver bem toda esta nova realidade.

Da noite para o dia o mundo fechou. Ou quase. Não parou, mas ficou muito mais quieto. E a quietude obriga-nos, exige-nos, impõe-nos um tempo novo. Um ciclo que inaugurámos com perplexidade e descrença, mas que foi tomando conta de nós e das nossas rotinas até se tornar natural. Ou quase.

Alguém chamou a esta existência a nova normalidade. Faz sentido, mas talvez faça ainda mais sentido ouvir o que nos diz o silêncio das ruas e avenidas, dos jardins e dos parques, mas também o silêncio das grandes praças e dos templos antigos.

O Papa celebrou sozinho na Praça de São Pedro, mas se virmos com atenção, nunca naquela praça coube tanta gente ao mesmo tempo. Fiéis de todo o mundo tiveram lugar sentado, este ano. Até aqui, cada cristão celebrava a sua Páscoa na sua paróquia, na sua igreja, em sua casa. Muitos ligavam a televisão para assistir às celebrações de Roma, é certo, mas não eram tantos como os que este ano se juntaram virtualmente ali, em direto.

Nesta Páscoa houve espaço para todos, em Roma. Todos nos sentimos na primeira fila, muito próximos do Papa. Todos o seguimos, todos o acompanhámos, todos o vimos e ouvimos com renovada atenção. Diria mesmo com fé renovada.

Foi precisa uma pandemia para nos impedir de sair de casa, mas foi graças a esta pandemia que Deus se fez ainda mais presente em muitas casas. De um dia para o outro surgiram incontáveis sites que nos ajudaram a rezar e acompanhar todas as celebrações de Quaresma e Páscoa, mas também nos permitem continuar a ir às Missas diárias e dominicais.

Centenas, milhares de pessoas passaram a assistir quotidianamente à Missa através do Youtube e impressiona a contagem destas mesmas pessoas (que fica visível em cada transmissão) pois muitas delas não conseguiriam sair de casa ou dos empregos a horas de poderem participar numa Missa diária. Sabemos que antes da pandemia muitas igrejas estavam praticamente vazias aos dias de semana, mas agora o que vemos são capelas e templos cheios de fiéis. Parecem vazios, mas estão a transbordar de gente.

Num tempo em que fomos forçados a prescindir da presença física dos que amamos, em que muitos ficaram impedidos de viver do seu trabalho, em que não podemos abraçar-nos quando morre um ente querido nem visitar os nossos doentes em casa ou nos hospitais, neste tempo em que nada é como era e pouco voltará a ser como já foi, fica a sensação de que muito nos foi tirado. E foi.

Mas também muito nos está a ser dado.

 

Pedro Valinho Gomes, Investigador nas áreas da Teologia e da Filosofia

(In Voz da Fátima, Ano 098, N.º 1172, 13 de maio 2020) 

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