31 de maio, 2010

SS. TRINDADE – FÁTIMA – 30/05/2010
Celebramos a solenidade da Santíssima Trindade que começamos por invocar logo no início desta Celebração. Na luz do mistério pascal revela-se-nos o centro do cosmos e da história: o próprio Deus que é Amor (cf. 1 Jo 4, 8.16). E “o amor é sempre um mistério, uma realidade que supera a razão sem a contradizer, antes exalta as suas potencialidades” . Na oração do Credo, que faremos daqui a momentos, iremos professar a nossa fé no Deus uno e trino e na sua obra criadora, salvadora e santificadora. No Prefácio desta Solenidade, rezaremos assim: “Senhor Pai Santo, Deus eterno e omnipotente! (....) Com o Vosso Filho Unigénito e o Espírito Santo, sois um só Deus, um só Senhor, não na unidade de uma só pessoa, mas na trindade de uma só natureza”.
“Quando nós, cristãos, confessamos a Trindade de Deus, queremos afirmar que Deus não é um Deus solitário, fechado em si próprio, mas um ser solidário. Deus é comunidade, vida compartilhada, doação recíproca e voluntária, aquele que ama, o amado e o amor. Confessar a Trindade não quer dizer, apenas, reconhecê-la como princípio, mas também aceitá-la como modelo último da nossa vida. Quando afirmamos e respeitamos a diversidade e o pluralismo entre os seres humanos, confessamos, na prática, a distinção trinitária das pessoas. Quando eliminamos as distâncias e trabalhamos para realizar a igualdade efectiva entre homem e mulher, entre felizardos e desventurados, entre próximos e afastados, afirmamos, na prática, a igualdade das pessoas na Trindade. Quando nos esforçamos por ter “um só coração e uma só alma” e por aprender a pôr tudo em comum para que ninguém tenha de sofrer a indigência, estamos a confessar o único Deus e aceitamos em nós a sua vida trinitária” .
O Santo Padre Bento XVI, numa das suas catequeses, afirmava que para quem tem fé, “todo o universo fala de Deus Uno e Trino. Desde os espaços interestelares até às partículas microscópicas, tudo o que existe remete a um Ser que se comunica na multiplicidade e variedade dos elementos, como numa imensa sinfonia. Todos os seres são ordenados segundo um dinamismo harmonioso que, analogicamente, podemos definir: "amor". Mas é somente na pessoa humana, racional e livre, que este dinamismo se torna espiritual, se faz amor responsável, como resposta a Deus e ao próximo, num dom sincero de si mesmo. Neste amor o ser humano encontra a sua verdade e a sua felicidade” .
Neste amor, acreditamos que Deus fez tudo com sabedoria, como nos falava a primeira leitura e que, na plenitude dos tempos, se fez um de nós com amor gratuito e incondicional. Por isso, com S. Paulo, também nós “nos gloriamos, apoiados na esperança da glória de Deus” (vv. 1-2). E se a vida nos traz dificuldades e não nos poupa ao sofrimento e à dor, também cremos que “a tribulação produz a constância, a constância a virtude sólida, a virtude sólida a esperança. Aquela esperança que não engana porque foi derramada em nossos corações pelo Espírito da Verdade que nos guiará para a verdade plena, nos fará aderir ao projecto de Deus Pai, à obra de Deus Filho e nos levará a reproduzir no tempo a vida que existe no seio da Trindade: o amor. Deus é amor. O amor exige comunicação. Implica dar-se, entregar-se à pessoa amada e abrir-se a um terceiro, que é precisamente o fruto do amor interpessoal . Na vida trinitária, cada Pessoa é ela própria, fazendo a Outra ser. “A dinâmica do dom recíproco que constitui o Ser de Deus, é a vocação mais profunda dos seres humanos”
Reparte com alegria, como a Jacinta: este foi o mote que os responsáveis pela pastoral deste Santuário escolheram como pano de fundo para a reflexão e catequese deste ano em que celebramos o centenário do nascimento da Beata Jacinta Marto. Na verdade, olhando para o exemplo de Jacinta, sentimo-nos estimulados ao despojamento de nós próprios, a partilhar o que somos e temos, a amar os outros, a ser generosos e solidários e a nos sentirmos corresponsáveis pela salvação de todos, rezando, desagravando, fazendo penitência, oferecendo os nossos sofrimentos e alegrias, trabalhos e canseiras, convertendo-nos. Não afirmou Nossa Senhora, aqui, em Fátima, que há muita gente que não se salva porque não há quem reze por ela? E não dizia Pio XII na sua Encíclica Mystici Corporis: grande mistério este e nunca assaz meditado o de a salvação de muitos depender das orações e dos sacrifícios voluntários de outros? 
Na terceira aparição do Anjo, em 1916, na Loca do Cabeço, as três crianças gravaram no seu coração um sentimento profundo pela Majestade de Deus uno e trino, a par de um grande sentido de reparação e de um forte desejo de se sacrificarem e rezarem pela conversão dos pecadores. O Anjo que trazia na mão um cálice e sobre ele uma hóstia da qual caíam dentro do cálice algumas gotas de sangue, ajoelhou-se diante deles e convidou-os a repetir três vezes aquela oração na qual nós, hoje, tantas vezes descansamos rezando suavemente diante dos Sacrários das nossas cidades, vilas e aldeias: “Santíssima Trindade, Pai, Filho, Espírito Santo, adoro-Vos profundamente e ofereço-Vos o Preciosíssimo Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Jesus Cristo, presente em todos os Sacrários da Terra, em reparação dos ultrajes, sacrilégios e indiferenças com que Ele mesmo é ofendido. E pelos méritos infinitos do Seu Santíssimo Coração e do Coração Imaculado de Maria, peço-Vos a conversão dos pobres pecadores”.
Vir a Fátima como peregrino, implica deixar-se envolver pelo silêncio deste espaço que tem sabor a mistério e aponta para o Céu, para o seio da Trindade. Implica interiorizar a mensagem que o silêncio, individual e colectivo, faz ecoar no coração de cada um. Implica dialogar com Deus que é Amor, sentir-se amado por Ele e deixar-se renovar interiormente pela oração e pela graça dos sacramentos e regressar a casa por outros caminhos: os caminhos da conversão e da santidade, que conduzem à construção da tão necessária “civilização do amor” em casa, na escola, no escritório, na comunidade paroquial, no campo, na fábrica, na actividade cultural, social, política ou económica, enfim…onde quer que cada um viva e actue. Só assim ajudaremos a construir uma sociedade moldada à semelhança da comunidade trinitária, vivendo com os outros, para os outros, nos outros e graças aos outros, num dinamismo permanente de profunda comunhão e no total respeito e valorização da diversidade .
Celebramos hoje o Dia de Oração pela Vida Consagrada Contemplativa. Rezamos por aqueles e aquelas que optaram pela “lógica da não eficiência” e residem em mosteiros, que embora “aparentemente inúteis, são, ao contrário, como afirma Bento XVI, como que os pulmões verdes de uma cidade, fazem bem a todos, também a quantos os não frequentam e talvez ignorem a sua existência”. Aí se faz silêncio. Aí se escuta a Palavra. Aí se faz uma verdadeira experiência de amor. Aí se contempla, medita, agradece e reza pela santificação da humanidade. Por nós também. Rezemos por eles e por elas para que o Senhor os ajude e aumente o número das vocações à Vida Consagrada Contemplativa, masculina e feminina.
Para além da XXVII Peregrinação anual da Diocese de Portalegre-Castelo Branco com as suas intenções, preocupações, alegrias e esperanças e de outros grupos de várias procedências (como ouvimos), também temos entre nós, na sua VIII Peregrinação anual, a Federação do Folclore Português. E que bom celebrarmos juntos a nossa fé, à volta da Mãe.
Jacinta, se gostava de brincar, de contemplar as estrelas, de colher e oferecer flores, também gostava de cantar e dançar, o que, segundo nos relata Lúcia, foi gosto que não perdeu mesmo depois das aparições. Era uma criança contemplativa, amiga da natureza, alegre e cheia de beleza interior: tal como convém a todo o cristão que se preze de o ser.
Segundo sei, vós, as pessoas que aqui estais ligadas ao folclore português, sois gente de quatro gerações. Muitos de vós sois Catequistas, Ministros Extraordinários da Comunhão, membros de Grupos Corais, do Corpo Nacional de Escutas, das Conferências de S. Vicente de Paulo e de outras áreas de intervenção eclesial, social, cultural, política e lúdica. Para além de serdes gente de trabalho e empenhada na construção da comunidade humana, sois ponto de referência e elemento congregador nas vossas comunidades e nas comunidades portuguesas da diáspora. Não deixais por mãos alheias a salvaguarda e promoção das vossas tradições e cultura popular, que constituem um património imaterial incalculável que continuais a recolher, promover e divulgar. Aos intelectuais e pessoas da Cultura “empenhados na pesquisa e edificação dos vários saberes”, falou o Santo Padre Bento XVI no passado dia 12 do corrente mês. Faço minhas, para vós e para todos quantos se dedicam a esta causa quer no País quer nas comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo, as palavras com que o Santo Padre terminava o seu discurso: “Fazei coisas belas, mas, sobretudo, tornai as vossas vidas lugares de beleza”.
Que Maria, obra-prima da Santíssima Trindade, nos ajude a progredir na santidade, a renovar a fidelidade a Cristo, a concretizar os nossos programas pastorais diocesanos e paroquiais e a fazer da nossa vida um cântico de louvor ao Pai, por meio do Filho no Espírito Santo. E que as nossas famílias cristãs, a sociedade em geral e as suas estruturas possam descobrir na Santíssima Trindade o seu paradigma de relacionamento e actuação.
+Antonino Eugénio Fernandes Dias
Bispo de Portalegre-Castelo Branco
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