10 de julho, 2018

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Rui Ramos apresentou Fátima como “parte do progresso do século XX”

Historiador trouxe novas pistas de leitura para a investigação de Fátima

 

Na primeira aula do Curso de Verão, esta manhã, o historiador Rui Ramos analisou o contexto de “Portugal e do mundo ao tempo das Aparições”. Ao evocar as duas referências históricas de então: a Primeira República e a Primeira Guerra Mundial, o investigador apresentou uma revisão das dicotomias que tradicionalmente são referidas na análise do Acontecimento de Fátima, trazendo novas pistas de leitura para a investigação de Fátima.

O doutorado em Ciência Política começou por sublinhar a importância de “uma visão mais segura e crítica do contexto” das Aparições para que sejam alcançadas “novas leituras” do acontecimento. No contributo que deixou nesta primeira aula, Rui Ramos delimitou Fátima na “charneira entre duas épocas: o século XIX, liberal e burguês, e o século XX, marcado pelas duas Guerras Mundiais, a Guerra Fria, o progresso e a grande transformação estrutural”.

Ao apresentar uma contextualização do fenómeno de Fátima, o investigador alertou para a “simplificação” recorrente que se faz da análise de Fátima nas dicotomias: Campo/Fatima ou Tradição/Progresso, e Igreja/República ou Catolicismo/Laicismo.

“Fátima está num contexto de mudança onde um mundo acaba e começa um outro. Quem estuda Fátima simplifica este contexto a partir destas dicotomias. Não sendo totalmente despropositadas, não são, no entanto, a melhor maneira de compreender o que se passou em 1917, em Portugal, a partir da Cova da Iria”, defendeu, ao apresentar uma revisão desta perspetiva tradicionalmente apontada.

Sobre a dicotomia Campo/Fatima ou Tradição/Progresso, o historiador começou por demonstrar que esta ideia “simplificada” servia, com ideias diferentes, ao argumentário quer dos apologistas quer dos críticos de Fátima. Face a esta análise, e recorrendo a referências históricas, Rui Ramos defendeu uma outra perspetiva de análise, através da qual apresentou uma sociedade “muito mais complexa do que aquela que tendencialmente se faz transmitir”.

“Fátima é uma sociedade muito diferente e complexa da estrutura rígida que imaginamos. A simplificação tornou as coisas mais difíceis de compreender. Neste sentido, a nossa análise deve também ser mais complexa e olhar, com mais atenção, para a forma como as pessoas se relacionavam umas com as outras”, disse, ao defender que “Fátima é, desde o início, um acontecimento nacional”.

Na revisão da dicotomia Igreja/República ou Catolicismo/Laicismo, Rui Ramos apresentou Fátima como “lugar de encontro entre um novo catolicismo e um novo republicanismo”.

“Fátima corresponde a um novo catolicismo, em rutura com a ‘Igreja de Estado do século XIX’, mais individual, ligado à fé e aos fiéis, e mais ligado à mobilidade das peregrinações e não centrado na tradição eclesiástica e dogmática. Do lado da República, com o derrube de Afonso Costa por Sidónio Pais, também assistimos a uma tendência de maior proximidade com a religiosidade popular. A partir de 1917/18, Fátima congrega novos católicos, apologistas de Fátima, e aqueles que querem uma nova República e procuram referências de consenso para sanar divisões.”

Na conclusão, e a partir desta ideia, o investigador do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa e do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa apresentou Fátima como acontecimento integrante progresso do início do século.

“Mesmo sem o Estado Novo, Fátima teria sido um grande acontecimento, porque foi o local de encontro entre um novo catolicismo e um novo republicanismo. Fátima faz parte do próprio progresso, porque foi e é uma maneira das pessoas viverem o novo século XX.”

A terceira edição dos Cursos de Verão do Santuário de Fátima decorre entre hoje e a próxima quinta-feira, no Centro Pastoral Paulo VI, com o objetivo de apresentar síntese das leituras do acontecimento de Fátima. A proposta formativa reúne uma equipa formativa de investigadores, técnicos e especialistas em diversas áreas: religião, história, filosofia, comunicação, artes e restauro.

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