06 de dezembro, 2022

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“A mensagem de Fátima convida a uma verdadeira metanoia: não se trata de uma mudança de comportamento ou de estilo, mas de ser”

Isabel Varanda, professora da Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa, é a convidada do podcast #fatimanoseculoXXI e reflete sobre a ecologia integral a partir de Fátima e deste lugar.

 

A mensagem, as linguagens e todo o vocabulário de Fátima encerram uma dimensão antropológica, ligada à conversão do humano na sua fragilidade, mas têm um “potencial de alargamento do humano não apenas a uma conversão a Deus mas a todas as criaturas”, refere Isabel Varanda no podcast #fatimanoseculoXXI de dezembro, que está disponível em www.fatima.pt/podcast e nas plataformas iTunes e Spotify.

“Nós não nos podemos converter a Deus sem nos convertermos às criaturas. Isto é, não podemos virar-nos para Deus e virarmos as costas ao mundo; estes dois amores têm de ser compagináveis”, afirma a professora e investigadora da Faculdade de Teologia de Braga, da Universidade Católica Portuguesa. “É aqui que reside este potencial da mensagem de Fátima”, reconhece. “Sem conversão não desenvolvemos uma empatia cordial com as outras criaturas. Isto liga-nos de novo a Fátima, a esse Coração Imaculado de Maria: o coração que é o refúgio mas também o caminho para Deus... Mas quem é este Coração Imaculado? É o próprio Filho, o próprio Jesus e, portanto, este lugar mariano, que é Fátima, é um lugar Cristológico e Cristocêntrico”, reflete a investigadora.

“A conversão está no coração da mensagem de Fátima, porque é a palavra-chave do Evangelho. A questão da conversão é de facto a metanoia, a mudança radical que não é uma mudança de estilo ou comportamento, mas uma mudança de ser. E a mensagem de Fátima convida a isto e convida, também, a rezar por isto”.

“Em Fátima, desde a primeira hora, reza-se pela conversão, reza-se pelos pecadores para que não sejam condenados, reza-se pela conversão do mundo, para que não haja tantos humanos que desviados do sentido do bem erram, que afastados do sentido da paz, do sentido de Deus, no limite, erram”, esclarece.

A partir do exemplo dos três pastorinhos, Isabel Varanda, sublinha a importância da liberdade: “Temos de aprender com as crianças essa liberdade, porque só espíritos livres se deixam prender e é nesta altura que ocorrem as revelações mais profundas. Sempre me seduziu a sua natural e livre abertura ao transcendente, que nas suas vidas tem uma tradução muito prática no próximo: o que está doente, o que sofre porque é pecador e vai para o Inferno e, por isso, temos de rezar por essa pessoa para que não vá para o Inferno, para que não sofra atormentada, para que tenha salvação. Esta fraternidade expressa por todas as criaturas e realidades do mundo é muito comovente e interessante”.

Transpondo, hoje, esta mensagem para a perspetiva eclesial – “todos irmãos” –, de que o Papa nos fala na sua belíssima encíclica, que aponta para dois conceitos, a fraternidade universal e a amizade social, desenvolve-se uma cultura de proximidade”, refere.

“Identificar o meu próximo é converter-me ao outro, à diferença. Temos de amar a diferença. Não se trata de a tolerar – isso não é cristão –, trata-se de amar a diferença, de a desejar, desejar o outro tal como ele é, e isso configurará o desenvolvimento de um pensamento racional e cordial, aberto e inclusivo”.

“Carecemos deste pensamento, todos nós, a Igreja em Portugal e no mundo: carecemos deste pensamento aberto e inclusivo, e isso não cai do Céu; temos de o trabalhar dando-lhe prioridade”, sublinha destacando a importância da educação formal, informal e eclesial, desde o berço, às catequeses.

“Sem conversão, sem nova mentalidade, sem investimento em processos de desenvolvimento, de priorização da construção de um pensamento aberto e inclusivo, não iremos muito longe porque nos afastamos inclusivamente desta dimensão universal da própria encarnação”.

“Eu espero que em breve deixemos de ouvir dizer que Deus encarna para salvar os homens, que Deus encarna para salvar a humanidade. Por mais belo e verdadeiro que seja, e é, este discurso não está à altura do mistério da encarnação que celebramos: o Logos do Pai, o Verbo do Pai, encarna, e Jesus Cristo é a encarnação do Logos do Pai, o que confere a esta encarnação uma dimensão cósmica e universal”, adianta.

“Dizer que Deus encarna para salvar a humanidade é uma linguagem inaceitável e insuficiente, pois a “ecologia integral”, de que o Papa fala na encíclica Laudato Si’ (uma encíclica social que constitui um marco fundamental), contempla a relação entre todas as criaturas, ligadas por vínculos ontológicos e indestrutíveis”.

Mas temos sabido ser esta Igreja próxima? “A Igreja tem feito o que pode e consegue fazer: com humildade, com as dificuldades próprias dos tempos, da época e das circunstâncias e dos desafios de cada tempo, embora o desafio da conversão continue a ser persistente e incisivo”, afirma.

“Há milhões de cristãos em todo o mundo. Era possível que a Igreja apresentasse um rosto mais convertido, um rosto que testemunhasse de facto a alegria do Evangelho, um rosto credível, um rosto sedutor que testemunhasse uma alegria e sentidos de vida profundos e que fosse apelativo até, nem que fosse para despertar a curiosidade: o que é isso de ser uma Igreja de Jesus Cristo? Porque é que eles são assim?”, interpela.

“O facto é que, na realidade, pouca gente se interessa já ou revela essa curiosidade. Há fossos terríveis que se cavam entre toda uma visibilidade institucional da Igreja, toda uma mensagem espiritual e pastoral que a Igreja, na sua visibilidade institucional, tenta e se esforça tremendamente por desenvolver, mas não tenho a certeza de que estejamos a conseguir a linguagem adequada, a coerência e a transparência que são realmente necessárias, sendo nós uma Igreja de Jesus Cristo, imagem de Deus”, afirma.

“Talvez o peso institucional da Igreja e as estruturas pesadas com as quais organizamos o quotidiano eclesial acabem por ofuscar e não permitir ou serem facilitadoras de um acesso mais eficaz ao mistério, à beleza da boa notícia”, clarifica.

“Temos de reconhecer que não temos estado à altura, e quando dissermos isso libertar-nos-emos e viveremos um tempo de luz”.

“‘Vinde a mim todos vós que estais cansados’ é uma mensagem para o Santuário, para a Igreja de Jesus Cristo, para as religiões, para a Igreja Católica e para todos nós: vós todos que andais cansados, vinde a mim e eu vos aliviarei. Identificar espaços como Fátima para aqueles que buscam o repouso é fundamental”, afirma.

“Num mundo marcado pela dor, pela guerra, pela incerteza, a Igreja de Jesus tem de tornar mais visíveis esses espaços que lutam contra a voragem dos dias, que não tem compaixão pelo ritmo humano; talvez aí, parando, possamos desenvolver processos de fraternidade universal e amizade social”.

“Fátima é um lugar de pausa, onde os ritmos são outros, e como Fátima tantos outros lugares, físicos e espirituais. A religião e o Cristianismo têm obrigação de os revelar”, conclui.

 

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