11 de outubro, 2023

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Converter e reparar a integridade

Irmã Sandra Bartolomeu*

 

O caminho da aldeia é pacato. Lembro-me de o percorrer com a sensação de visitar uma página de um longínquo passado, em que tradicionalmente se vivia da terra: estradas estreitas cujo alcatrão há muito rachou, casas rasteiras de porta aberta para a horta, onde crescem videiras, oliveiras e/ou árvores de outros frutos que produzem com vantagem para a partilha. Na vida de aldeia, pacata e pobre, há um silêncio, um sacrifício e uma ingenuidade que a utopia do modernismo há muito procurou superar e subplantar com a tecnologização da vida e o erigir de cidades de betão armado, a ponto de aí os sinais do natural e das ‘origens’ serem mesmo muito diminutos, reduzidos a projetos de jardim ou a algum pedaço de terreno baldio, não isento de lixo.

Muitas aldeias viram os filhos sair em busca de condições de progresso e futuro que a vida do campo não lhes poderia dar; e era verdade. Outras deram, elas mesmas, lugar a paisagens totalmente urbanizadas, nas franjas de grandes urbes e sofrendo com os seus problemas.

Em 2008, uma exposição organizada no âmbito do festival PHotoEspanha mostrava, no, então, Museu Coleção Berardo, um conjunto de fotografias sob o título Utopias. A exposição ilustrava a falência da utopia modernista com imagens de enormes e arrojados projetos de arquitetura do século XX que não chegaram a ser concluídos ou que se encontram agora à beira da demolição. Um símbolo forte da falência de um determinado paradigma que também podemos ler nas notícias que fazem referência aos efeitos nefastos da ambição capitalista ou da negligência humana sobre a Casa Comum. 

É inegável todo o benefício que o progresso tecnológico traz à nossa vida; mas inegável é também o grito pela integridade da terra e do nosso próprio ser – também ele ‘terra’ e terra que o próprio Deus quis fazer lugar de transcendência.

Nesse sentido, perante o atual contexto, talvez a aldeia seja já não mais um terreno a dar lugar a uma urbe modernizada, mas, naquilo que ela tem de genuíno, um lugar de futuro.

Sob o grito pela integridade, há no Homem contemporâneo uma sede de algo original, sem artifício. Procuramos o artesanal, a aldeia, ou o que dela venha, com nostalgia da vida salutar, do silêncio e do ritmo constante, mas tranquilo, que tempere o estilo veloz e fragmentador dos nossos modos de vida. Naquilo que nos é dado na criação pressente-se o Mistério no qual o nosso ser repousa.

E o que nos impede de convertemos os nossos estilos de vida de forma a adotarmos um modo mais integrado, equilibrado e unificado de viver, centrado no essencial, vivendo com menos, dando espaço ao silêncio, à criação e à vocação, à transcendência que ela encerra?

Numa aldeia chamada Aljustrel viviam três crianças a quem Nossa Senhora apareceu, por sinal, em cima de uma carrasqueira, apontando para a necessidade de converter e reparar em ordem à unidade que Deus deseja para o mundo e para o Homem, que Ele ama.

 

* A irmã Sandra Bartolomeu é religiosa das Servas de Nossa Senhora de Fátima.

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