13 de fevereiro, 2020

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MARIA AOS PÉS DA CRUZ DE JESUS

 

Gosto de ir à Missa todos os dias e tento manter-me fiel a este tempo de oração que é muito mais do que um propósito de fé, é uma necessidade espiritual vital. Vou a diferentes Igrejas, a diferentes horas, dependendo dos compromissos de cada dia. Numa destas Igrejas há uma imagem que me interpela particularmente. Falo da Igreja de São João de Deus, perto da Praça de Londres, em Lisboa, onde existe uma Cruz com Jesus e Sua Mãe, como se ambos estivessem pregados na mesma cruz.

É uma escultura de pedra branca, muito bonita, numa escala muito humana, que está como que abrigada debaixo de uma passagem entre a nave central e as naves laterais desta Igreja contemporânea. Não se vê ao primeiro olhar, nem está exposta na zona do altar. Está quase de frente, mas num espaço mais recolhido.

Não há uma única vez que passe por esta imagem sem que o amor de Maria pelo seu Filho me atravesse o coração. Faz-me parar, convoca-me ao silêncio e sinto-me também eu trespassada pela espada do sofrimento que trespassou a Mãe de Jesus e nossa Mãe. Ela não foi crucificada, não ficou pregada naquela cruz nem sofreu nenhum golpe de espada, mas sofreu como se tivesse sido, também ela, crucificada, trespassada pelos pregos e pelo fio gelado do metal.

Nesta imagem viva e de tamanho quase humano, Maria parece suspensa na mesma cruz de Jesus, mas numa atitude de urgência, de quem Lhe quer dizer uma derradeira verdade. Nossa Senhora sabe que aqueles são os últimos minutos de vida de Jesus e fala com Ele. Jesus olha amorosamente para sua Mãe e parece escutar o que Lhe diz. Maria surge na cruz de forma improvável, mas a representação é a da força do seu amor. Maria é mãe e quer estar ao lado do seu Filho até ao fim, sabendo que Ele sabe que nunca o abandonará. E fala com Ele com a mesma pressa com que nós, mães, falamos com os nossos filhos quando sabemos que só há tempo para dizer o essencial.

Numa altura em que aquela Mãe já não podia tocar no seu Filho, Maria surge tão próxima e tão presente na cruz que é como se lhe tirasse peso. Como se o madeiro se tornasse infinitamente mais leve e mais suportável pela certeza do seu amor e da sua verticalidade.

Maria não é uma mulher que se tenha visto desesperada a chorar nem se deixou abater pelo cúmulo de injustiças e maus tratos infligidos a um inocente que era o seu Filho muito amado. Também não se lhe ouviu uma queixa nem uma acusação e, muito menos, uma ofensa. Maria não teve gestos de ódio nem de vingança, não ficou ressentida nem deixou que o sofrimento a enchesse de paralisias. Não culpou ninguém nem afundou em auto-vitimização, fechada ao mundo e centrada em si mesma.

Maria acompanhou o seu Filho até à cruz e percorreu todo o caminho que Ele percorreu. Viu-O cair e voltar a cair. Chorou e sofreu, mas manteve-se sempre de pé, nessa verticalidade resgatadora dos que sabem que nada do que vivem e vêm é o fim.

Penso muitas vezes em Maria aos pés da cruz de Jesus. Penso nela quando atravesso períodos de sofrimento, dor, perturbação ou perplexidade. Volto a ela sempre que, ao meu lado, alguém sofre com desespero e falta de esperança. Perante os que se deixam abater e cedem ao desânimo por não se sentirem capazes de suportar tanta dor, penso em Maria e na sua maneira de amar, centrada no Essencial, encontrando em Deus e na sua fé as forças para continuar a caminhar. O seu exemplo é tão alto, tão elevado, que parece impossível estar à sua altura, mas acredito que Maria nos ajuda a compreender que não estamos sós nos nossos sofrimentos.

Maria em silêncio aos pés da cruz de Jesus crucificado é a imagem viva da certeza de que nenhuma dor fica de fora das dores que ela e o seu Filho viveram. Nenhum sofrimento passado, presente ou futuro tem o poder de destruir a fé e a esperança. Podemos andar derrotados e até sentir-nos abatidos ou abandonados, como Jesus e Sua mãe se sentiram, mas sabemos que não é o fim.

 

Laurinda Alves, Jornalista, escritora, tradutora e professora universitária de Comunicação, Liderança, e Ética 

(In Voz da Fátima, Ano 098, N.º 1169, 13 de fevereiro 2020) 

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