21 de maio, 2021

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O apelo da vida dos Pastorinhos é sermos fiéis ao Evangelho, afirma José Rui Teixeira

O diretor da Cátedra Poesia e Transcendência Sophia de Mello Breyner, na Universidade Católica do Porto, aceitou o desafio da Voz da Fátima para perspetivar a perceção que os jovens, hoje, podem ter do modelo de santidade dos pastorinhos.

 

De que forma a espiritualidade dos dois santos Francisco e Jacinta Marto pode ajudar os jovens de hoje a perceberem o significado e o valor da santidade?

É uma questão complexa, na medida em que pressupõe um stricto sensu e um lato sensu. O modo como vivemos nas nossas vidas as diferentes experiências de santidade denuncia, habitualmente, uma acomodação à mimética circunstancial, ou seja: agarramo-nos ao acessório e não chegamos a integrar nas nossas vidas o sentido dessa narrativa paradigmática que é o âmago de qualquer experiência de santidade e, desse modo, uma caixa de ressonância para a resposta afirmativa a essa vocação universal. O contexto, a idiossincrasia e o imaginário de Francisco e Jacinta – assim como de Lúcia – são irrepetíveis em stricto sensu, mas as suas vidas – intensíssimas narrativas paradigmáticas – não ajudam apenas os jovens a perceberem o significado e o valor da santidade, ajudam-nos a todos. Confesso que as minhas dúvidas têm a ver com o modo como nos situamos diante do contexto, da idiossincrasia e do imaginário, ou seja, como presentificamos estas experiências de santidade e como as resgatamos para as nossas vidas.

 

Uma das marcas da juventude, hoje e ontem, é a irreverência. Vemos os jovens com disponibilidade para o imediato, mas com resistência a compromissos mais duradoiros. Uma vida de santidade pressupõe um compromisso mais duradoiro. Estarão os jovens de hoje menos disponíveis para oferecerem a sua vida a Deus, como fizeram os Pastorinhos, sacrificando-se e cuidando dos outros?

Sinceramente, não sei se o nosso compromisso com aquilo que eclesialmente concebemos como “vocação universal à santidade” é uma questão etária ou idiossincrática. Na minha condição de professor, trabalhei e convivi com centenas de jovens nos últimos vinte anos e essa experiência diz-me que – quando se identificam com uma mensagem, com um projeto – são generosos, disponíveis, capazes de envolvimento e compromisso; e quanto mais reconhecem num adulto a autenticidade de uma atitude comprometida, mais são capazes – eles próprios – de se comprometerem intensamente. Ou seja, creio que o apelo ao imediato e a resistência a compromissos mais duradouros resultam menos de se tratar de jovens e mais de existirem neste contexto social que todos partilhamos, com tudo o que isso implica. Os nossos jovens são herdeiros deste contexto e – infelizmente, mais do que nunca – parecem-me em condições não de lhe resistir, mas de o acelerar nas suas causas e nos seus efeitos. Acredito que se a Igreja for fiel ao Evangelho e estiver comprometida com a sua condição de crisálida do Reino de Deus, os jovens estarão na linha da frente desse modo de ser e de existir em configuração com Cristo. É esse – creio – o grande apelo que a vida dos Pastorinhos testemunha. E isso inspirará e implicará necessariamente e de muitos modos, não apenas nos jovens, o espírito de sacrifício e o exercício do cuidado.

 

Miguel Torga dizia que, sem amor, nenhuns olhos são videntes. Estes pequenos e humildes pastores entregaram a vida a Deus, foram exaltados por Ele e hoje são santos, mas foram rebaixados pelos poderosos. Como no Evangelho de Lucas... A força do amor acaba sempre por vencer, quer do que se dá quer daquele que dá?

Parece-me tão verdadeira essa intuição de Miguel Torga. Sim, acredito que a força do amor terá a última palavra, mesmo quando o exercício de olhar o mundo só nos restitui desolação e semeia desesperança. Francisco e Jacinta – e Lúcia naturalmente – testemunham e desdobram poeticamente essa porção do Evangelho. A consciência e a esperança de que a força do amor acaba sempre por vencer é uma ressonância dessa voz que nos lembrou – há cem anos – que há um Coração Imaculado que triunfará.

 

 (In Voz da Fátima, Ano 098, N.º 1169, 13 de fevereiro 2020) 

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