13 de janeiro, 2021

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VAMOS JUNTOS

Por Maria João Ataíde*

 

Em cada novo ano que começa temos o hábito de rever, de refletir sobre aquilo que se passou, mas verifico agora que 2020 tem duas leituras! E curiosamente são 9 os meses que importam neste ano que revejo, pois em março uma nova realidade surgiu, a pandemia, tal como são 9 os meses de gestação de um ser humano...

Ah, rezando o terço, dou conta de que as aparições em Fátima foram também 9, sendo 3 as do Anjo da Paz para preparar os pastorinhos e 6 as da Senhora mais brilhante que o sol. No entanto, não tivemos preparação para a pandemia e já estamos cansados de ouvir e de falar sobre ela.

Como foi a adaptação a esta nova realidade? Pessoalmente já vivi este fenómeno, pois em 1947 fiquei tuberculosa, e nesse tempo em que não havia vacinas nem tratamentos eficazes para tal doença, a criança que eu era (5 anos) encontrou dentro de si recursos para sobreviver à inação e ao isolamento fora da família, tal como explica o Cardeal Tolentino, no seu maravilhoso livro Amar um País, quando afirma que “há muitos recursos dentro de nós que habitualmente não precisamos sequer de ativar, mas que agora é o momento de pôr em prática”.  Tal como hoje, o contágio era uma ameaça.

Talvez no início da pandemia essa experiência da infância tenha sido uma ajuda para o isolamento e as dificuldades de tratar das necessidades prementes do quotidiano, descobrindo, afinal, que há hoje tecnologias e instrumentos que facilitam o confinamento, sendo que o mais importante é não perder o sentido que damos à vida e mesmo à morte, à medida que me chegavam as notícias terríveis de amigos e familiares que desapareciam, sem que fosse possível fazer o luto por eles.

Nestes meses da nova realidade (não gosto do termo novo normal) há duas imagens que se destacam para mim como mais dramáticas, pelo contraste com o tempo anterior à pandemia.

São dois Santuários:

O Santuário de Fátima, que conheço tão bem porque era o único local onde me levavam quando criança para receber a bênção dos doentes, e a Praça de São Pedro, em Roma.  Em ambos estive muitas vezes, integrada em multidões de fiéis e, embora conheça vários outros santuários no mundo, estes são únicos pela sua luminosidade e pelas figuras da Senhora Vestida de Branco e do Homem Vestido de Branco. 

 Pois ver através da televisão o Santuário de Fátima vazio de fiéis e assistir às celebrações conduzidas com a dignidade e o fervor habituais impressionou-me profundamente.

Na Praça de São Pedro a figura do Papa Francisco, só, rezando com o mundo em sofrimento é a outra imagem que não esquecerei. E retiro da Encíclica Fratelli Tutti esta afirmação: “Ninguém pode enfrentar a vida isoladamente…; precisamos de uma comunidade que nos apoie, que nos auxilie e dentro da qual nos ajudemos mutuamente a olhar em frente”.

Vamos a isso!

 

* Maria João Ataíde é pedagoga.

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