26 de março, 2022

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“A liturgia e a piedade popular podem restituir ao Homem hoje, o sentido místico da vida e os santuários têm neste aspeto um papel determinante”

Reitor do Santuário de Fátima falou dos “Desafios contemporâneos aos santuários marianos: devoção, peregrinação e turismo”

 

No âmbito do congresso internacional “Mulher, Mãe e Rainha”, que teve lugar em Fátima, o Pe. Carlos Cabecinhas, falou sobre os “Desafios contemporâneos aos santuários marianos: devoção, peregrinação e turismo”, que “são muitos e variados fruto da evolução da sociedade em que vivemos, e como essa evolução influencia a vivencia da fé”.

O reitor do Santuário de Fátima, falou no marco que foi a preparação do Jubileu do ano 2000, que marcou o período a partir do qual o magistério eclesial passou a dar particular relevância aos santuários e peregrinações.

“Entre os lugares mais significativos para a evangelização, destacam-se os santuários, de forma particular, os santuários marianos, e é de realçar o número de peregrinos que anualmente se dirigem em peregrinação a estes lugares, e muitos são aqueles que embora não se expressem como peregrinos, acorrem a estes santuários como visitantes, acabando por participar nas celebrações e exercícios de piedade que aí têm lugar”, explicou o sacerdote, lembrando ainda que para muitas destas pessoas “é o único contacto quem têm com a palavra de Deus e o exercício da fé, e fazem-no através de Maria”.

Os santuários, “são elementos determinantes na tarefa evangelizadora da Igreja, mas a principal atividade pastoral dos santuários são as celebrações litúrgicas, a oração e os atos de piedade”.

“As práticas de piedade popular marianas, têm nos santuários uma presença particularmente importante e uma eficácia evangelizadora significativa”, e estes lugares “são por excelência lugares do encontro entre a piedade popular, a liturgia e a fé cristã”.

“A liturgia e a piedade popular podem restituir ao Homem hoje, o sentido místico da vida e os santuários têm neste aspeto um papel determinante”, afirmou o Pe. Carlos Cabecinhas, considerando um desafio não fazer apenas dos santuários lugares de oração, “mas escolas de oração, e por isso devem adequar os seus espaços, bem como cuidar do silencio, e esta é uma das maiores dificuldades sentidas nestes lugares”.

A realidade da peregrinação “é um fenómeno em mudança, é um fenómeno que acompanhou toda a história do cristianismo, contudo esta prática não é um dever, é um ato livre, e institucionalmente pouco determinado, e é uma prática especialmente atrativa, por um interesse crescente”.

O congresso reuniu especialistas e investigadores em torno de diversas temáticas: estudos da Mariologia, da Teologia e da Bíblia; da religiosidade popular; das associações de fiéis e das ordens religiosas, impulsionadoras da devoção à Virgem Maria; do Direito canónico; da Antropologia e da Sociologia, da Arte e da História da Igreja; da História de Portugal e da História Universal.

Na conferencia de encerramento, Rino Fisichella, Presidente do Conselho Pontifício para a Promoção da Nova Evangelização (Vaticano), falou sobre “A pastoral dos santuários dedicados à Virgem Maria”.

“Um santuário dedicado à Virgem Maria, tem uma pastoral própria, no entanto tem a particularidade de exprimir de forma especial a espiritualidade mariana”, começou por dizer, lembrando que hoje “muitas pessoas estão à procura de uma verdadeira espiritualidade, e isto manifesta-se antes de mais como uma exigência de silencio e transcendência, que leva as pessoas em busca de algo que ajudem a encontrar-se em si mesmas”.

É uma existência “ferida em si mesma, fruto da desilusão por não encontrar o verdadeiro amor ou por ser vítima de violência, ou mesmo quando se sente provado da dignidade que lhe é devida”.

“A busca de significado é então fator que conduz à espiritualidade enquanto desejo de existência autêntica”, considera.

Deste modo a pastoral dos santuários “não pode considerar obvia a resposta a esta questão, porque não sabemos quem nos escuta, mas devemos ter a certeza de que algum dos presentes está à procura de Deus porque precisa Dele”, alertou ainda.

Na sessão de encerramento, o bispo da diocese de Leiria-Fátima lembrou que o congresso além de proporcionar um “ato de hermenêutica”, que nos ajuda a penetrar nas raízes é um momento que permite ler os sinais do mundo e recolocar os temas debatidos.

“Viemos para aqui no meio de uma pandemia e de uma guerra, para falar de Maria que tanto nos encoraja a falar de paz” afirmou D. José Ornelas Carvalho destacando a realidade do mundo atual, profundamente marcado “por uma guerra de nacionalismos” tão próxima da realidade falada por Maria em Fátima, há cem anos

“Maria leva-nos à realidade do mundo, onde é possível estar presente e reconstruí-lo” disse o prelado.

“Falou-se de Maria, Imaculada, isto é, que não foi atingida pelo mal das origens; Ela é a que está cheia de graça e não vai só prestar ajuda à sua prima Isabel, na sua velhice, foi e vai também foi à Ucrânia para dizer a todos consolar e mostrar o seu amor”.

“Que este congresso e esta reflexão não se esgotem na sua hermenêutica e permita esta releitura em função dos sinais do tempo”, concluiu.

Na sessão de encerramento tomaram ainda a palavra o presidente da Comissão organizadora, Marco Daniel Duarte e o presidente da Comissão Científica, cónego João Paulo Abreu. Ambos sublinharam a importância dos eixos temáticos trazidos a este fórum e que permitiram ler, de forma atualizada, a missão de Maria como “Mulher, Mãe e Rainha”, nos 375 anos da coroação de Nossa Senhora da Conceição como padroeira de Portugal.

O Congresso tem este domingo o seu encerramento com uma celebração eucarística, no Santuário de Vila Viçosa, onde estarão em exposição as três coroas mais importantes da Imagem de Nossa Senhora nas suas diferentes invocações: a coroa de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, a coroa de Nossa Senhora do Sameiro (Braga) e a Coroa de Nossa Senhora da Conceição (Vila Viçosa). É a segunda vez este ano que a coroa da Imagem de Nossa Senhora que se venera na Capelinha das Aparições sai do Santuário, sem ser na Imagem para estar em exposição fora do seu espaço. A primeira foi em São Roque, em Lisboa, em outubro.

O arcebispo de Évora desafiou a Igreja a “reaprender com Maria a sua maternidade” e fez votos que este congresso “seja luminoso para nos ajudar a criar uma Igreja Sinodal”.

Foi em 25 de março de 1646 que o rei D. João IV consagrou os «Seus Reinos e Senhorios» a Nossa Senhora da Conceição, representada esta numa escultura existente no Santuário de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa. Por “Provisão Régia”, Nossa Senhora foi proclamada a Padroeira de Portugal e, a partir de então, não mais os monarcas da Dinastia de Bragança voltaram a colocar a coroa real na cabeça.

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