23 de outubro, 2025

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Fátima no cinema: um século em três filmes

De entre os muitos filmes produzidos sobre Fátima até aos dias de hoje, fomos rever três películas, que revelam como Fátima permaneceu fonte de inspiração para o mundo e para o cinema.

 

Ao longo dos últimos 100 anos, a sétima arte voltou repetidamente ao acontecimento de Fátima, apresentando-o, em diferentes momentos, à luz das sensibilidades de cada época. Em cada filme sobre as aparições de 1917 reconhece-se a visão de uma geração que sentiu necessidade de revisitar Fátima no seu evento fundador. Hoje, lançamos um olhar sobre este século através de três filmes que retrataram as aparições da Cova da Iria.

Passam mais de três décadas das Aparições de 1917 quando o cinema aponta as lentes para o acontecimento de Fátima. A sétima arte vivia o final de uma era de ouro, através da qual a indústria dos grandes estúdios de Hollywood projetou esta forma de entretenimento ao grande público.

Foi já num período em que o cinema rivalizava com a televisão, em plena década de 1950, que um desses grandes estúdios quis passar para a imagem em movimento um guião de narrativa clássica, inspirado na história das aparições de Fátima, num período em que os épicos religiosos eram aposta segura nesta indústria.

Entre o clássico Quo Vadis, de 1951, e A Túnica, de 1953, surge o filme O Milagre de Fátima, em 1952, um épico devocional realizado por John Brahm assumido como aposta da Warner Brothers, um dos “Big Five” — cinco maiores estúdios de Hollywood.

Um ano antes, a edição de junho de 1951 da Voz da Fátima dava eco da produção deste filme americano com o receio de o espetacular se sobrepor à simplicidade, “com o prejuízo da verdade histórica e da unção religiosa”.

 

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Fátima como épico religioso

Num período em que o cinema se queria afirmar face à televisão, a opção pelo espetacular seria inevitável e a obra final viria a apresentar uma estética marcada pelas grandes produções de então: um uso saturado da cor; grandes reconstituições cenográficas, nem sempre fiéis à realidade; e uma banda sonora grandiosa que amplifica uma narrativa épica, onde os heróis — os Pastorinhos — se debatem com os vilões, rumo ao clímax, representado no milagre do sol.

O Milagre de Fátima estreia em Portugal a 13 de março de 1953 e na edição desse mesmo mês da Voz da Fátima, o cónego José Galamba de Oliveira assina uma crítica ao filme, que teve oportunidade de ver em antestreia. Apresar de apontar algumas “pequenas e secundárias imperfeições”, desde “a pêra e mosca do pai da Jacinta” à anacronia do diálogo entre Lúcia e o bispo, o presbítero diocesano — que foi jornalista e historiador do acontecimento de Fátima — aconselha o grande público a assistir à película, que segue com maravilhosa fidelidade a linha central das aparições.

“O filme leva-nos a pensar que o mundo realmente não vai bem e que a Senhora tem razão: é necessário arrepiar caminho, fugir do pecado e cumprir a lei de Deus. Só assim o mundo enlouquecido logrará encontrar o caminho de tão almejada paz”, conclui o padre José Galamba de Oliveira, referindo-se implicitamente à tensão latente entre o bloco ocidental e oriental que o mundo vivia e que estava num dos seus auges.

A marca da Guerra Fria é visível na narrativa desta primeira grande produção de Hollywood sobre Fátima, sobretudo na forma como contrapõe a fé das personagens principais ao ateísmo que derivara das transformações políticas e sociais da primeira metade do século XX. É neste contexto que surge a personagem ficcional Hugo, a personificar o ceticismo e anticlericalismo daquela época, mas que, pela proximidade que assume com os Pastorinhos, serve também de exemplo de conversão progressiva e afirmação do triunfo da fé.

Esta correlação entre a expressão da sétima arte e a conjuntura histórica viria a merecer destaque quase 40 anos depois, quando o acontecimento de Fátima viria a ser retratado no cinema, mas num género distinto e já com a consultoria do Santuário de Fátima.

 

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Um documentário sóbrio e fiel

Na edição de novembro de 1989 da Voz da Fátima lê-se uma breve notícia que dá nota das primeiras movimentações para a realização de um novo filme sobre as aparições de Fátima.

“Uma organização internacional, que recentemente fez um filme sobre as aparições de Lurdes, […] mostra-se interessada em Fátima. Um sacerdote italiano, residente em França, foi já encarregado de escrever o argumento, que será fundado essencialmente nas Memórias da Irmã Lúcia. O Santuário está a prestar a melhor colaboração no sentido de esta iniciativa se concretizar, dado o grande valor pastoral que pode vir a representar na divulgação da mensagem”, lê-se no mensário.

A principal novidade desta nova produção sobre o acontecimento de 1917 era a de querer assentar o seu argumento nos escritos da única vidente ainda viva na altura, Lúcia de Jesus. Além disso, o filme, que foi realizado pelo conceituado documentarista francês Daniel Costelle, num género misto de documentário e drama, viria a contar com a colaboração do Santuário de Fátima, o que conferiu mais autenticidade à obra.

O filme “Aparição”, feito para ser passado na televisão, viria a estrear dois anos depois, em 1991, e começou, desde maio desse mesmo ano, a ser exibido no Centro Pastoral de Paulo VI, no Santuário, como forma de dar a conhecer o acontecimento de Fátima, informa a Voz da Fátima de fevereiro de 1992, na qual o Santuário justifica o valor pastoral desta obra.

“Este filme pretende dar resposta a uma necessidade há muito sentida pelos peregrinos que visitam Fátima, que é a de conhecer, através de um meio rápido, interessante e fidedigno, a história e a mensagem de Fátima”, informava o artigo, que referia a contabilização de cerca de 20 mil espetadores desde o início da exibição.

A nova obra cinematográfica sobre o acontecimento de Fátima destacava-se do filme dos estúdios de Hollywood, de 1952, sobretudo pela sua sobriedade e fidelidade documental — com cenas filmadas em Fátima e diálogos retirados de citações das Memórias da Irmã Lúcia —, resultando, por isso, num registo menos dependente dos elementos ficcionais do cinema da década de 1950. Terá sido sobretudo esta autenticidade que levou o Santuário a adotá-lo como recurso pastoral, ainda usado atualmente.

Também devido a esta fidelidade narrativa e histórica, este docudrama interessou diferentes públicos. Se os crentes o viam aos olhos da fé, os não crentes viam-no na perspetiva de uma narrativa que oferecia uma visão dos acontecimentos com detalhe histórico.

Numa época em que a televisão já se afirmara em relação ao cinema e procurava ser também um espaço de cultura e informação e não apenas de entretenimento, este filme veio oferecer um novo olhar sobre as aparições de 1917, 75 anos depois.

 

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Uma interpretação para diferentes públicos

O filme Aparição foi recebido de forma entusiástica pelo público, não só nas exibições que aconteciam no Santuário de Fátima, como também no âmbito internacional, através da aposta da dobragem da obra em diversas línguas.

Quase três décadas depois, a sétima arte voltaria a olhar para o acontecimento de Fátima sob uma renovada expressão estética e com a intenção de criar uma produção global, já projetada para os circuitos comerciais internacionais.

Produzido em inglês e com um elenco internacional de renome, que incluiu atores como o norte americano Harvey Keitel e a brasileira Sónia Braga, o filme Fátima, realizado por Marco Pontecorvo estreou em 2020.

Em comum com o filme Aparição, de 1991, a nova obra cinematográfica tinha o facto de também se basear nos escritos da Irmã Lúcia de Jesus, que falecera em 2005. Apesar de se alicerçar nas Memórias da vidente, a película conta a narrativa das aparições à luz de um enredo ficcional que coloca Lúcia em diálogo com um investigador cético. Estas duas camadas ofereceram, simultaneamente, uma reconstituição histórica do acontecimento e uma reflexão contemporânea sobre a mensagem de Fátima no mundo atual, numa linguagem cinematográfica capaz de dialogar com públicos de diferentes sensibilidades culturais e religiosas.

Com uma fotografia cuidada, que cria ambientes intimistas, o filme Fátima é sobretudo centrado nos rostos e nas emoções das personagens e gera envolvência sobretudo pelos diálogos. Estes aspetos são os mais privilegiados e até o milagre do sol é representado de uma forma contida tendo em conta o manancial de recursos disponíveis atualmente, numa opção que favorece a dimensão psicológica das personagens e uma visão intimista do acontecimento de Fátima.

Apesar de ter estreado no contexto adverso do início da pandemia de COVID-19, o filme teve e continua a ter uma circulação global, muito graças à distribuição que foi feita nas plataformas digitais.

Cada um destes três filmes oferece a narrativa das aparições de Fátima lida à luz do seu tempo e do tempo da sétima arte como meio de expressão humana. Um épico religioso feito para encantar multidões pelo espetáculo não é menos relevante do que uma narrativa documental que explora a autenticidade ou uma película do século XXI tecnicamente mais sofisticada. Cada um destes filmes é um olhar hermenêutico sobre o acontecimento de Fátima; e o facto de o cinema a ele regressar com renovado interesse revela a perenidade de Fátima.

 

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