22 de agosto, 2025
![]() Peregrinação a Fátima inclui partilha e convívio à mesaO Santuário de Fátima também é local de encontro para as famílias. Em dias de peregrinação, os parques enchem-se para momentos de união e partilha entre peregrinos de diferentes gerações.
A azáfama do dia a dia mantém-nos afastados e são poucos os momentos em que conseguem reunir-se e conviver em torno de uma mesa. Porém, há uma circunstância que tem o condão de os juntar. É uma das vertentes da peregrinação ao Santuário de Fátima que não passa despercebida a quem, à hora de almoço, circula pelos espaços verdes que torneiam o Recinto de Oração, sobretudo nos dias festivos. “A vida é tão complicada que quase não temos oportunidade de estarmos juntos”, lamenta Georgina Paulino, de 88 anos, reconhecendo que o encontro da família acaba por acontecer em Fátima quando vêm em peregrinação. Georgina e os restantes elementos da família são de Cascais: Maria Leonor Ávila, de 73 anos, Laura Ávila, de 28, Luís Paulino, de 54, e Bernardo Paulino, de 28. Partiram de casa às 8h00 para chegar a tempo à missa que, naquele domingo, se celebrou às 10h00 por ser 13 de julho, dia de Peregrinação Internacional Aniversária. A família vem regularmente a Fátima, quase sempre em maio e outubro, como explica Maria Leonor. Para almoçar escolhem os parques de merendas do Santuário. Mesmo quando não encontram mesa disponível, estendem as mantas no chão e aí fazem a refeição em família. “Almoçar nos parques é mais saudável, estamos em paz, o convívio é mais agradável, não estamos na confusão dos cheiros nem com pressa de nos levantarmos”, esclarecem, reconhecendo que “o almoço é também uma forma de união e de partilha”. Naquele domingo os estômagos saciam-se com croquetes, coxas de frango, bola de carne, pasta de atum e bastante fruta. Depois disso, eles descansam e elas põem os assuntos em dia. A vinda a Fátima, porém, não termina aqui. Maria Leonor conta que, após o almoço, regressa ao Santuário: “fico na Capelinha muito tempo”. “Não temos pressa para ir embora e nunca saímos antes da noite”, acrescenta Georgina, explicando que dessa forma fazem o trajeto de regresso com calma e já no período mais fresco. Se tudo correr como previsto, em outubro a família volta a reunir-se, em Fátima, como já começa a ser tradição. “Também precisamos desta paz” O número de lugares é limitado e nem todos conseguem vaga nos alpendres de que o Santuário dispõe, num dos seus parques. Os Silvas e os Pintos, duas vertentes de uma mesma família, encontraram uma mesa livre nesse espaço protegido do sol quente daquele 13 de julho. Almoçar neste lugar do Santuário é importante, não só porque o grupo é numeroso, como também porque dois dos seus elementos movem-se em cadeira de rodas. “É mais económico, estamos mais à vontade e não há barulho nem confusão”, explicam. Almoçar de modo tranquilo e sossegado é um aspeto que valorizam nesta vinda a Fátima. “Também precisamos desta paz, adoramos estar aqui e sentir esta paz”. A família é de Espinho. Partiu de casa às 8h00 para não falhar o início da celebração da missa. Há uma década que vem ao Santuário, por norma, uma a duas vezes por ano. Os 10 elementos que contornam a mesa são de diferentes gerações. A mais nova do grupo tem 10 anos e a mais velha 86. “Esta parte da peregrinação também é importante, até porque, depois de almoço, regressamos ao Santuário e ainda vamos à casa dos Pastorinhos, em Aljustrel”. Só depois regressam a casa. Mais e menos devoção A família dos Barbas ─ assim pedem para serem designados ─ é numerosa e a mesa torna-se pequena. Os adultos acomodam-se como podem, enquanto as crianças circulam de colo em colo, atacando uma batata frita aqui e outra ali. “Assim em família, já não vínhamos há 10 anos”, esclarecem. Tal não significa que, durante esse período, Fátima não tenha sido destino de peregrinação. Vieram por diversas vezes, uns a pé, outros de carro. O almoço em família é que, nesses casos, não aconteceu. É, pois, motivo de regozijo esta união em Fátima, por ocasião da peregrinação de 13 de julho. “Estes almoços são um momento de família e de encontro”, afirmam, mesmo que, entre os vários elementos, se encontrem “os que vêm com devoção e os que só acompanham”. Todos se respeitam e, após o almoço, regressam ao Santuário, calmamente. “Cada um, de forma individual, faz o seu ritual”. Os Barbas são mais um exemplo do encontro de gerações em que estes almoços também se transformam. O elemento mais velho do grupo tem 82 anos. O mais novo, com apenas um ano, é o Francisco. O nome deve-o ao dia em que nasceu ─ 12 de maio ─ e ao momento em que a mãe ficou grávida, decorria então a Jornada Mundial da Juventude que trouxe a Portugal o Papa Francisco. O regresso à Murtosa, de onde são naturais os Barbas, ocorre, por norma, pelas 16h00, já depois de cada um ter concretizado o seu ritual. Um dos elementos veio cumprir uma promessa, outros não prescindem de acender uma vela. Há ainda que comprar lembranças para aqueles que, por agora, não puderam vir. |