Segurança rodoviária foi lida à luz da fé cristã

Segurança rodoviária foi lida à luz da fé cristã

No colóquio que abriu a 10.ª Peregrinação da Bênção dos Capacetes, autoridades civis e religiosas destacaram o papel da Igreja na formação de consciências, na estrada.

A segurança rodoviária foi lida à luz da fé e da ética cristã no colóquio que, esta tarde, abriu o programa da 10.ª Peregrinação da Bênção dos Capacetes, no Centro Pastoral de Paulo VI, no Santuário de Fátima.

"A estrada é lugar de encontro, de serviço, mas também de risco. Nela cruzam-se pessoas, histórias, rostos e destinos. Como discípulos de Cristo, somos chamados a viver também neste espaço a caridade, a prudência e o respeito pela vida humana, que é dom precioso de Deus", afirmou D. Rui Valério, patriarca de Lisboa e presidente da peregrinação, no início do encontro, salientando a "enorme atualidade e relevância" do tema em debate.

Também o reitor do Santuário destacou a pertinência do encontro, que teve como tema: “A segurança rodoviária nos horizontes da fé”.

“A fé também tem algo a dizer sobre segurança rodoviária: tem, sobretudo, algo a dizer aos crentes sobre a sua responsabilidade”, estabeleceu o padre Carlos Cabecinhas, momentos antes, na abertura do encontro.

O presidente da Associação Bênção dos Capacetes, Carlos Pereira, também tomou da palavra na introdução do colóquio, dando a conhecer a história e o significado da peregrinação da Bênção dos Capacetes, contextualizando-a na relação mais ampla entre a fé cristã e a segurança rodoviária.

"As autoridades governamentais criam leis, as forças de segurança fiscalizam, as escolas ensinam, mas a comunidade, incluindo a igreja, tem um papel fundamental, formar consciências. A igreja relembra que a estrada não é apenas um percurso físico, mas também um caminho espiritual", disse Carlos Pereira, perspetivando o colóquio e peregrinação como “uma prova de que Nossa Senhora de Fátima continua a ser o farol que guia, mesmo no asfalto”.

Segurança rodoviária perspetivada como mandamento de caridade

A primeira apresentação da tarde coube a Luís Miguel Ferraz, investigador do Departamento de Estudos do Santuário de Fátima, que ofereceu uma partilha histórica sobre a presença de veículos na Cova da Iria, desde a sua origem, e também uma evolução da prática da bênção dos veículos no Santuário de Fátima até aos dias de hoje.

A partilha teve como tema “Nunca vi tanta gente junta nem tanto carro", retirado de um testemunho de agosto de 1917, que foi ponto de partida de uma apresentação que evidenciou o crescimento exponencial de viaturas no Santuário de Fátima ao longo do último século.

Seguiu-se a reflexão do padre Ricardo Figueiredo, diretor do Departamento da Comunicação do Patriarcado de Lisboa, que perspetivou a moral cristã como base que pode ser aplicada ao comportamento no trânsito.

“Assumamos a segurança rodoviária como uma causa comum que traduz no nosso tempo aquele mandamento perene de amar o próximo como a si mesmo. O trânsito não pode continuar a ser um campo de batalha velado, onde diariamente vidas se perdem inutilmente. Urge uma conversão cultural e também espiritual do modo como nos comportamos nas estradas de Portugal", alertou o presbítero do patriarcado de Lisboa, apelando ao “compromisso ético e cristão” de “colocar a dignidade e a vida da pessoa humana em primeiro lugar”, também nas estradas.

A última intervenção coube ao presidente da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR), que estabeleceu como principal papel da Igreja na segurança rodoviária a formação de "consciências retas", que conduzam a comportamentos responsáveis. Pedro Clemente disponibilizou-se para uma colaboração prática entre a ANSR e a Igreja que parta da mensagem do Evangelho para fazer chegar, sobretudo aos mais jovens, uma mensagem técnica de apelo à segurança nas estradas.

Na conclusão do colóquio, Pedro Clemente, em representação do Secretário de Estado da Proteção Civil, Rui Rocha – que não pôde estar presente no encontro – saudou a organização e reforçou o empenho e o apoio do Governo em iniciativas como a do colóquio que teve lugar esta tarde, pela mobilização que geram na sociedade civil e pela transmissão de valores que transformam a conduta nas estradas.

O presidente da ANSR expressou ainda a “enorme gratidão” do Secretário de Estado da Proteção Civil pela Peregrinação da Bênção dos Capacetes, que tem o seu ponto alto amanhã, na celebração da missa, no Recinto de Oração, a partir das 11h00.

No início do encontro, o presidente da Associação Bênção dos Capacetes leu uma mensagem enviada pelo Presidente da República, onde Marcelo Rebelo de Sousa reconhece o valor da Peregrinação da Bênção dos Capacetes e agradece a organização do encontro, que, através da dimensão espiritual, promove a segurança rodoviária

A Bênção dos Capacetes é uma das maiores peregrinações à Cova da Iria. Na edição do ano passado, cerca de 180 mil motociclistas encheram o Recinto de Oração.