14 de dezembro, 2025
Testemunhos de inclusão e esperança marcam Jubileu das Pessoas com Deficiência e seus CuidadoresO Santuário de Fátima foi ponto de encontro de pessoas com deficiência, famílias e voluntários que deram rosto e voz a uma certeza: a diferença não limita a dignidade humana nem impede uma vida com sentido.
O Santuário de Fátima acolheu, ontem, dia 13 de dezembro, o Jubileu das Pessoas com Deficiência e seus Cuidadores, com um programa marcado por emoção, partilha e esperança. Entre histórias de dor, superação e compromisso, ficou esta mensagem em uníssono: a diferença não retira dignidade à pessoa, enriquece a comunidade. O encontro jubilar, promovido pelo Santuário de Fátima, em colaboração com o Serviço Pastoral a Pessoas com Deficiência, da Conferência Episcopal Portuguesa, e a Associação dos Silenciosos Operários da Cruz, decorreu num ambiente de grande cumplicidade e abertura. A manhã foi preenchida por sessões de reflexão, diálogo e partilha. À tarde, o encontro ficou marcado por testemunhos na primeira pessoa, num painel moderado por Carmo Diniz, diretora do Serviço Pastoral a Pessoas com Deficiência.
Miguel Atalaia, que adquiriu uma deficiência após um acidente aos 17 anos, recusou definições redutoras e defendeu que a deficiência é apenas “mais uma característica da identidade”. Apelou ainda a uma mudança de mentalidades. Reconhecendo que o mundo está ainda pouco preparado para acolher a diferença, defendeu: “devíamos todos ser uma espécie de embaixadores da diferença”. António Quadros e Costa, engenheiro agrónomo e agricultor, partilhou o impacto de uma doença neuromuscular progressiva que o levou a redefinir projetos de vida e sonhos. Falou abertamente da dor da perda, do longo processo de aceitação e da reconciliação com a fé. “Dentro de nós há permanentemente um combate entre o bem e o mal”, referiu, e a fragilidade pode alimentar um ou pode alimentar outro. “Temos um papel importante nesse processo de decisão” que é diário, segundo partilhou. Com uma história de vida marcada pela deficiência desde a infância, Joaquim Roque trouxe ao encontro um testemunho de resiliência e cidadania ativa. Prestes a aposentar-se após mais de quatro décadas de trabalho na administração pública, rejeitou a ideia de invalidez. “É mesmo possível e desejável termos uma vida com sentido, uma vida útil, com objetivos, com realizações, com sucessos e insucessos, como toda a gente, mesmo com muitas limitações”, afirmou. A dimensão familiar foi um dos pontos centrais do encontro. Rui Diniz, pai adotivo de Bernardo, jovem com deficiência profunda, explicou como a presença do filho transformou radicalmente a vida familiar. “A nossa família é hoje melhor porque o Bernardo faz parte dela”, afirmou, defendendo que as comunidades inclusivas, onde incluiu a Igreja, são mais humanas e mais ricas para todos. Também Mafalda Quadros e Costa, esposa de António, partilhou o olhar de quem escolheu amar e construir família numa realidade marcada pela deficiência. “A limitação deixa de ser só dele e passa a ser nossa”, disse, destacando a importância do diálogo, da adaptação e da partilha quotidiana. O papel da comunidade e do voluntariado esteve igualmente em destaque. Rosarinho Perdigão, ligada há quase quatro décadas ao trabalho com pessoas com deficiência, apresentou o Grupo da Diferença como um espaço de união entre instituições que escolhem olhar para as capacidades e não para as fragilidades. Flávio Soares, fundador da Associação Effectus, alertou para a necessidade de não romantizar o sofrimento, lembrando que muitas famílias vivem situações-limite. Partilhou um caso concreto de apoio urgente a uma mãe cuidadora, sublinhando que “o voluntário também tem esta esta missão de deixar que, através dele, Deus possa fazer milagres”. Cristina Mira, assistente pessoal de Bernardo, destacou a importância da assistência pessoal na promoção da autonomia e da dignidade, lembrando que a deficiência não se vive apenas na escola ou em casa, mas na participação plena na vida cultural, social e comunitária.
Após um diálogo sobre o papel do assistente pessoal, o encontro terminou com um apelo à união de esforços na construção de uma sociedade e de uma Igreja mais inclusivas, onde a diferença não seja vista como obstáculo, mas como um valor que humaniza e transforma. O programa do Jubileu terminou com a celebração da missa, na Basílica da Santíssima Trindade, presidida pelo bispo D. José Traquina, presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana da Conferência Episcopal Portuguesa. |