02 de agosto, 2025
![]() Uma casa que abre as portas para a vida dos santos PastorinhosHá um lugar, a cerca de 500 metros a pé do Santuário de Fátima, onde se podem ver de perto as relíquias dos santos Francisco e Jacinta Marto e alguns objetos que pertenceram aos dois videntes de Fátima.
O nome do núcleo museológico — Casa das Candeias —, que pertence à Fundação Francisco e Jacinta Marto, foi buscar inspiração às palavras de João Paulo II, há um quarto de século, na beatificação dos dois irmãos, quando disse que Francisco e Jacinta eram “duas candeias que Deus acendeu para iluminar a humanidade nas suas horas sombrias e inquietas”. A metáfora, também inscrita no túmulo dos videntes, na Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, serve para alumiar a história de vida dos videntes, num caminho feito à luz das estórias que revelam as virtudes de santidade de Francisco e Jacinta Marto. Esboçar a vida íntima em Deus Visitámos a Casa das Candeias nos últimos dias de primavera. O início de tarde ameno convida a passarada a voos de ida e volta entre o beiral da casa e os cedros que moram no jardim, do outro lado da estrada. No rés do chão do edifício, que serve de base à Fundação Francisco e Jacinta Marto, abrem-se as portas da Casa das Candeias. O nome está inscrito no muro de metal oxidado que ladeia a entrada do núcleo museológico, forrado num vidro escuro que reflete a imagem do visitante. Por cima da porta, duas candeias convidam a entrar numa morada que nos vai desafiar a rezar a vida a partir da santidade das duas vidas que lá moram. A receção projeta, em esboço, a existência de Francisco e Jacinta, através daqueles que os introduziram na vida em Deus: o Anjo de Fátima e Nossa Senhora. As portas abertas para a rua deixam ecoar os sons da natureza, que ajudam o visitante a deixar-se imergir na vida íntima em Deus. Aninhados entre os contornos da copa de uma árvore, estão expostos um esquisso para o retrato oficial da beatificação dos santos Pastorinhos e duas esculturas: um estudo em gesso do Anjo da Loca do Cabeço e uma réplica da imagem de Nossa Senhora do monumento à aparição de agosto, nos Valinhos. Junto a esta imagem, o visitante é convidado a experimentar a mesma proximidade espacial que os Pastorinhos tiveram com Nossa Senhora, nas aparições, projetando a Mãe de Deus numa relação que a apresenta, desde logo, como intercessora e caminho para o Filho. No retrato incompleto dos videntes que conclui este primeiro núcleo, a narrativa expositiva sublinha, logo ali, a ideia de que a santidade é um caminho cumprido passo a passo, que pressupõe abertura e disponibilidade para Deus. Um passo à frente, entramos na sala principal da exposição, que nos vai contar a vida dos Pastorinhos à luz do acontecimento de Fátima. Cara a cara, dia a dia No segundo núcleo, que se estende na lateral esquerda da sala em quatro pequenos nichos que reproduzem espaços da casa dos videntes, são mostrados objetos pessoais e utensílios usados pelos Pastorinhos no quotidiano e que falam de uma espiritualidade profunda. Uma caneca que nos prova o poder da conversão, um banco rústico que nos senta em oração, um lenço de cabeça que nos cobre da alegria em Deus ou um saco de farnel que oferece o sacrifício como alimento da alma são os artefactos que avivam episódios do dia a dia destas duas crianças e que desvendam os traços de santidade. Na parede seguinte, o terceiro núcleo da exposição apresenta os rostos espirituais de Francisco e Jacinta, destacando as profundas transformações que a experiência das aparições de Fátima exerceu em cada um deles. O segmento começa e termina com os rostos de Francisco e Jacinta, respetivamente, e é interpolado por pinturas a óleo sobre tela das aparições do Anjo e de Nossa Senhora e uma projeção que apresenta imagens da história de Fátima. Os rostos, reproduzidos a partir da ilustração de uma pagela, são apresentados num painel segmentado, onde os blocos, ao serem rodados, revelam fotografias de corpo inteiro dos videntes e dois pequenos pertences de cada um: uma conta do rosário, no quadro de Francisco, e um fragmento de ligadura usada durante os tratamentos médicos, no quadro de Jacinta. Entre os dois painéis, uma projeção mostra fotografias de momentos importantes da história de Fátima. Anfitriãs que conhecem bem os donos da casa A Casa das Candeias vai-se abrindo progressivamente em planos que mostram a vida dos santos Pastorinhos e em pequenos episódios que abrem frestas para a espiritualidade de Francisco e Jacinta. No chão, cada segmento é marcado com o respetivo título e a imagem de duas candeias, que se completam à medida que avançamos. Quem acolhe os visitantes no núcleo expositivo são as irmãs da Aliança de Santa Maria (ASM), uma congregação religiosa que, no seu carisma de cooperar na Nova Evangelização através do Coração Imaculado de Maria, se inspira na mensagem de Fátima. A ASM colabora de forma estreita com a Fundação Francisco e Jacinta Marto na dinamização da Casa das Candeias e a amabilidade, a alegria e o profundo conhecimento da mensagem de Fátima de quem nos recebe são fatores determinantes para uma experiência que impele à reflexão. As pequenas estórias da vida dos Pastorinhos que enquadram este museu são contadas com a ternura e o entusiasmo de quem tem como guia a santidade de Francisco e Jacinta, num acolhimento que projeta o visitante na essência da história que ali é narrada. Um caminho de santidade A visita prossegue o quarto segmento do núcleo museológico, onde o perfil de santidade de Francisco e Jacinta Marto é apresentado desde o seu batismo até à sua beatificação, a 13 de maio de 2000, pelo Papa João Paulo II. O capítulo inicia com a veste batismal que foi usada pelos dois irmãos e os respetivos registos de batismo e de óbito e prossegue a sublinhar a figura do Sucessor de Pedro na mensagem de Fátima e na história dos Pastorinhos. O decreto de beatificação dos dois videntes, impresso num painel, antecipa uma parte dedicada a João Paulo II, ali destacado pela importância que teve no reconhecimento da santidade dos Pastorinhos. Ali, o visitante pode ver de perto uma relíquia do santo Pontífice e vários objetos por ele usados: uma cruz peitoral, um terço, um solidéu, um par de sapatos, um lenço ou um ramo de oliveira que aquele segurou no Domingo de Ramos, há 20 anos. A terminar, uma edição em língua árabe do livro das Memórias da Irmã Lúcia, autografada por João Paulo II, é apresentada ao lado do documento através do qual a Igreja atestou a santidade dos dois Pastorinhos: o decreto de canonização de Francisco e Jacinta Marto, proclamado pelo Papa Francisco em 2017. “Candeias para alumiar a humanidade” A visita aproxima-se do final e o brilho das duas candeias que alumiam este núcleo museológico é agora evocado na marca que serve de ícone a esta casa: dois relicários, em forma de candeia, custodiam um fragmento de osso da costela de São Francisco e um fragmento de cabelo de Santa Jacinta. Acima do quadro das custódias, estão figurados uma lua e um sol, astros aos quais os Pastorinhos recorreram para se referirem a Nossa Senhora e a Jesus. Ao lado, o retrato oficial da beatificação dos dois irmãos, que completa o esquisso apresentado no início do percurso. A parede que marca este último segmento faz destacar do escuro inúmeros pontos de luz, que transportam o visitante para uma noite de procissão das velas, no Recinto de Oração, num painel onde se vão lendo curtas evocações aos santos Pastorinhos, que projeta para a luz de que fala a mensagem de Fátima. Ao longo do percurso, o visitante é convidado a contornar a sala que, no fim, nos encaminha o olhar para o meio do espaço amplo, onde um chão de vidro mostra terra árida de Fátima. À volta, quatro colunas de madeira ligam-se ao teto, onde os traços deixam perceber a figuração de uma árvore, numa estrutura que serviu de abrigo ao longo da visita e que demonstra que mesmo da terra mais árida Deus faz brotar ramos, que se expandem pelo futuro. Regressamos à entrada. A luz do sol projeta-se pela porta e estende-se como um tapete que convida a sair para o mundo. Lá fora, os pássaros continuam a voar para os ramos das árvores, em frente à Casa das Candeias, num rodopio vivo que desafia a participar da primavera. CASA DAS CANDEIAS Localização: Rua de São Pedro, 9 - Fátima Horário: Todos os dias, das 9h00 às 13h0 e das 14h00 às 18h00 |