17 de setembro, 2025
Uma “missão de entrega”, onde “se recebe na forma de dar”Chegou ao fim mais uma edição do "Vem para o Meio", que proporcionou férias a 350 pessoas com deficiência e aos seus cuidadores.
Terminou, no início de setembro, mais uma edição do "Vem para o Meio". Desde meados de julho, o Santuário de Fátima, em colaboração com os Silenciosos Operários da Cruz, proporcionou férias a 350 pessoas com deficiência e aos seus cuidadores. Foram seis semanas garantidas pela dádiva de 150 voluntários, numa “missão de entrega”, onde “se recebe na forma de dar”. No final de mais uma edição, partilhamos o testemunho na primeira pessoa de três voluntários, para quem a experiência do “Vem para o Meio” foi uma experiência intensa, desafiadora, mas profundamente gratificante.
"Uma experiência intensa e desafiadora"Tudo começou em 2022 com o testemunho de “passa a palavra” que fez despertar em mim uma curiosidade; só que, por circunstâncias da vida, não pude participar. Um ano depois, tinha acabado de experienciar a Jornada Mundial da Juventude e estava em Fátima, quando já estavam a decorrer as férias do “Vem para o Meio”. Uma publicação no Instagram despertou automaticamente algo em mim, que tinha arrumado numa gaveta. No dilema de se haveria de me inscrever, decidi avançar para as duas semanas seguintes. Foi o início de algo muito bonito. Após a vivência de dar e receber, resolvi dar um novo rumo à minha vida. Senti que o Senhor me chamava a ser mais. Comecei a participar dos encontros do “Movimento de Leigos”, dos Silenciosos Operários da Cruz (SOC), e dei mais um passo para a compreensão do meu próprio sofrimento e do sofrimento daqueles que me rodeiam. No ano seguinte, a minha envolvência com o “Movimento de Leigos” e com o carisma dos SOC intensificou-se; aproveitava todas as oportunidades para vir viver em comunidade e ia percebendo que o Senhor me chamava a viver por aqui. No ano passado, só consegui fazer um turno do “Vem para o Meio”, mas uma semana nunca é igual à outra. Cuidar de um ser humano é perceber que, diante do nós, temos uma pessoa e, mais de que um fazer desenfreado, temos de ser para o outro e com o outro. A vida é bela porque nunca se está igual quando nos dispomos a caminhar. Foi num retiro da Quaresma, organizado pelos SOC, que decidi entregar, numa carta, a minha disposição em fazer caminho mais profundo de discernimento nesta associação de leigos consagrados. Este interesse foi aceite e foi-me proposta uma primeira etapa, na qual viria a participar nos seis turnos das férias do “Vem para o Meio”, este ano. Por estes dias estamos a concluir o último turno e tem sido das experiências mais intensas e desafiadoras de toda a minha vida, porque sinto uma maior responsabilidade, diferente da dos que são voluntários. Aos familiares e cuidadores de pessoas com deficiência deixo um repto: arrisquem! Inscrevam-se no projeto “Vem para o Meio”! É algo que vale a pena para os vossos meninos e para vocês. Para os que ponderam vir a ser voluntários neste projeto, deixo este meu testemunho. Se hoje estou nesta etapa da vida, tudo começou neste projeto, no qual clarifiquei algo que já andava dentro deste coração. Vale sempre a pena partir à descoberta da missão e do amor que todos somos capazes de dar ao outro. Por último, deixo o desafio de divulgarem este projeto a uma família de uma pessoa com deficiência e a convidarem mais pessoas para o voluntariado. Sem o apoio do Santuário de Fátima e dos SOC este projeto não seria possível; porém, necessitamos sempre de pessoas que se voluntariem de forma genuína para esta missão de entrega e de ser, ser voluntário!”. JOÃO OLIVEIRA
"Receber na forma de dar"O viver, especificamente, também, o voluntariado, apresenta-se-me como o desafio de disponibilizar ao outro o que em mim possa ser útil. Assim aconteceu no “Vem para o Meio”. Nele continuar tem-se mostrado mais exigente pelo que dele mais me enriquece para lhe reverter a dádiva auferida. É delícia para os olhos do coração ver o quanto estas férias, oferecidas pelo Santuário de Fátima aos cuidadores das pessoas com deficiência, se distinguem de tudo o que a sociedade em geral oferece. Para além do que sinto, vivido pelas próprias pessoas com deficiência, pela solidária reciprocidade dos voluntários, pela competente dedicação e carisma dos SOC e, em geral, por todos os envolvidos, sublinho a vontade de regressar para o próximo ano manifestada pelos que tiveram a oportunidade de estar presentes. Mais ainda, sublinho o espanto e a alegria de alguns cuidadores — lá presentes ou em contacto à distância — de verem, pela primeira vez, os seus a serem recebidos e acompanhados com carinho num local de férias, quando, em algumas situações, nunca para esse fim haviam sido aceites por instituições. Com quanto redobrado espanto e alegria — também às vezes regados com lágrimas — viram eles os seus acolhidos a expressar um sorriso nunca observado! A minha experiência no “Vem para o Meio” resume-se a um receber na forma de dar. JOÃO AMADO "A diferença faz a diferença!"Ser voluntária neste projeto, desde 2017, é muito mais do que participar em mais uma experiência de voluntariado. É aqui que encontro o verdadeiro significado da alegria e do puro amor, tanto da parte dos filhos como dos pais. Ver a felicidade das famílias é o que me move e me leva a repetir esta experiência, ano após ano. É gratificante perceber que as famílias se sentem confortáveis para nos confiarem os seus filhos, para poderem tirar um tempo para si, ou ver a alegria e o descanso dos cuidadores que ficam connosco e sabem que serão bem cuidados. Tudo isto faz desta uma semana diferente, cheia de alegria, que transforma o ano que está por vir. Nestas semanas aprendi que mais importante do que fazer é estar, ouvir, acolher e valorizar a história que cada família tem para partilhar, aprendendo a ver além das fragilidades de cada um. CATARINA JESUS |
