17 de setembro, 2025

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Visita temática descodifica “Anunciação” do pintor Jorge Barradas

A historiadora de arte Emília Ferreira descodificou a obra “Anunciação” de Jorge Barradas, na quinta visita temática à exposição “servir, a única pregação”, no dia 10 de setembro.

 

O título da visita temática “A boa-nova numa flor, a partir de ‘Anunciação’, de Jorge Barradas” foi escolhido por Emília Ferreira pelo seu poder metafórico. A oradora referiu que, ao descodificar a obra do pintor modernista, pretendeu “criar sentidos para quem a vê pela primeira vez”.

A boa-nova numa flor é a metáfora que remete para o episódio bíblico da Anunciação. A historiadora de arte destacou a singularidade desta representação ─ “Maria é muito humana, quase realista” – e confessou que o sorriso da Virgem retratada por Jorge Barradas sempre a fascinou. “Há uma felicidade no rosto desta jovem mulher”, sublinhou.

Para Emília Ferreira, o pintor Jorge Barradas revelou uma grande liberdade na sua visão ao representar um tema religioso numa linguagem modernista, uma “dissonância” que pode decorrer de “uma falta de conhecimento canónico”, comentou a oradora. O resultado foi “uma paisagem em que nos sentíssemos em casa e que fosse o equilíbrio perfeito entre aquilo que é simbolizado ─ porque esta é uma cena simbólica ─ e aquilo que é anunciado e possível de trazer para o nosso quotidiano”. “Penso que é isso tudo que temos aqui nesta maravilhosa ‘Anunciação’ do Jorge Barradas”, concretizou a historiadora de arte.

No quadro em análise, destacou ainda a presença da natureza, comparando-a a uma recriação do Éden: “é como se eles estivessem num tempo perfeito, no tempo antes de qualquer mácula”.

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Dirigindo a atenção da plateia para alguns elementos naturais presentes na paisagem retratada, como o rio, a vegetação e a sombra, a historiadora explicou como remetem para as ideias de segurança e de sobrevivência. Exemplificou: o curso de água que significa uma escapatória ou uma forma mais imediata de nutrição para a sede; a vegetação que, não sendo demasiado serrada, permite abrigo; e a sombra, que em caso de ataques de predadores ou de inimigos oferece esconderijo.

Ainda num plano mais detalhado, Emília Ferreira apontou a simbologia das flores que, na análise da historiadora, remete para a pureza, as virtudes da alma, o estado edénico e a espiritualidade.

O jarro ─ a flor representada no quadro – significa não apenas a beleza, como também a sabedoria, a delicadeza, a beleza feminina e, simultaneamente, a modéstia, a religião, a transição e o crescimento, como referiu.

Sobre a luz presente no quadro, Emília Ferreira chamou a atenção para a predominância de cores claras, sem grandes contrastes. “Apesar de ser um grande desenhador, ele não usa o contorno como contraste, ele faz os planos muito através do uso da luz e da cor", afirmou.

Relativamente ao resplendor da Virgem, que é exclusivamente feito de luz, a historiadora de arte salienta que, a técnica da velatura a que Jorge Barradas recorre torna “percetível o mundo que está para trás, o mundo natural que ali se acolhe".

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Emília Ferreira é licenciada em Filosofia pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e doutorada em História da Arte Contemporânea pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. É historiadora de arte, museóloga, escritora e autora de ficção e ensaios, com várias obras publicadas e premiadas, crítica literária, crítica de arte, cronista, conferencista e tradutora e, entre dezembro de 2017 e fevereiro de 2025 dirigiu instituições como o Museu Nacional de Arte Contemporânea e a Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves.

A peça “Anunciação” (1936) de Jorge Barradas pode ser admirada de perto até ao dia 15 de outubro na exposição “servir, a única pregação”, que está de portas abertas todos os dias, das 9h00 às 12h30 e das 14h00 às 17h30.

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